Eu não ia postar isso, mas depois de escrever e escrever, escutei uma voz:
“PARA DE SER OTÁRIA, JULIANA, SE TU NÃO PROMOVER TUA ARTE, QUEM VAI, MULHER?”, disse eu mesma.
Meu Tico e Teco entram em conflito às vezes, como você pode bem ver. Mas faz sentido, já que sou apenas uma garota latino-americana com raízes no patriarcado capitalista querendo viver da própria arte.
Pois bem.
Minhas fotografias foram expostas numa casa de artes de Londres, e passei as últimas 24h pensando em muitos motivos para explicar esse momento – e também em inúmeros outros para minimizá-lo.
Sorte.
Eita mulher sortuda.
Só pode ter sido sorte.
Daí o neurônio empoderado me deu uma bela porrada e disse: “OLHA PARA A TUA HISTÓRIA, MULHER, ONDE É QUE TU FOI SORTUDA?”
Foi aí que decidi escrever essas linhas, para tentar fazer sentido.
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Sempre me vi como artista, mas nunca me assumi como tal.
O problema, decifrei, era muito mais embaixo. Era social, era econômico, era de gênero…
Foi depois dos trinta, de um processo de imigração e de sair do emprego tradicional que a crise bateu. E aí, minha filha, não tinha mais jeito…não tinha mais como eu não estar vivendo sob a pele que queria habitar.
Foram meses para conseguir dizer em voz alta que eu queria fazer arte. Na minha cabeça, quem faz arte tem muito talento, e eu não sou uma gênia como as mentes que admiro. Quem é a Juliana perto de Frida? E me comparar foi, e ainda é, um dos grandes pecados.
Depois que me despi um pouco da comparação excessiva, consegui aceitar a minha própria arte.
O primeiro passo foi voltar a estudar – e essa foi a coisa mais bonita que fiz por mim mesma nos últimos anos. Quanto mais eu estudo, mais me empodero do que me inspira, do meu olhar, da minha técnica e de quem eu sou.
Mas tudo é muito lindo escrito dessa forma, mas e a grana? Bufunfa. Plata. Capital.
Equipamento custa caro. Quantos turnos eu teria que fazer para pagar o curso que eu queria? Quando eu falo que ser artista é “econômico”, tô falando disso.
Conhecer outras pessoas que criam foi uma grande virada. Vi que nesse mar de gente havia uma tribo que entendia o que eu passava. Foram essas pessoas que me abriram a mente, deram seus pitacos e me ajudaram a construir referências. Essa troca foi importantíssima porque finalmente compreendi que a arte que eu fazia tinha, sim, o seu valor.
Como a gente se diminui sendo mulheres artistas, né?
Um dia li que não ouvimos histórias de grandes artistas mulheres por inúmeros motivos. Deixando de lado os óbvios, como a apropriação, a falta de oportunidades e o patriarcado, um deles era o seguinte:
A maioria das mulheres artistas, eternamente cobradas socialmente por serem perfeitas, também esperam suas artes estarem perfeitas para jogá-las pro mundo. Porque elas sabem muito bem que, se não tiverem 100% de certeza de que suas criações estão boas o bastante, o mundo irá apontar o dedo e cobrá-las. E essas criações acabam nunca indo para o mundo, e vivemos para sempre carentes de referências.
Minha cabeça explodiu quando li isso, e decidi que trabalharia essa questão do perfeccionismo. Fiz um trato comigo mesma de que publicaria mais e mais, mesmo sem estar confiante (até porque, será que um dia estaremos?).
Comprei minha primeira lente depois de 12 anos de sonho aposentado precocemente após assistir um documentário com a fotógrafa @mitty
Entrei para um grupo de fotografia do bairro para poder trocar ainda mais com outras pessoas.
Fiz um curso em uma das melhores universidades de artes do mundo.
Minhas fotos foram expostas pela primeira vez.
E, aí?
É, acho que vou ter que compartilhar… Fazer disso um hábito e promover a mim mesma.
Por que é isso, né? Se eu não me promover, quem irá?
Minhas fotos foram selecionadas para uma exposição em Londres!
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